"Depreciação a frio", essa é a proposta do ex-ministro da Fazenda
Luiz Carlos Bresser Pereira para ajudar o Brasil a sair do córner imposto pelo trinômio câmbio sobrevalorizado, juro alto e, mais recentemente, inflação elevada. Keynesiano célebre,
Bresser confia que, para a economia reencontrar seu ponto de equilíbrio, é necessária a intervenção da mão forte do Estado, mas de maneira suave.
A reportagem é de
Marcelo Mota e publicada pelo jornal
Valor, 05-08-2011.
A receita consiste em, primeiro, intensificar o ajuste fiscal e ser ainda mais obstinado na perseguição à meta inflacionária, com aperto monetário. "Em seguida, depreciar o câmbio", disse
Bresser ontem, ao chegar para o encerramento do
4º Encontro Internacional da Associação Keynesiana Brasileira.
A fórmula não é nova. "Foi o que o
Delfim fez em 81", disse
Bresser. Depois de frear a economia com um aperto monetário e fiscal, em 1983 o então ministro da Fazenda,
Antônio Delfim Neto, lançou mão de uma maxidesvalorização da moeda. "E a economia voltou", lembrou
Bresser.
Enquanto prepara o terreno para a desvalorização, o governo brasileiro teria de começar a implementar mecanismos de controle de capital ou intensificar os que já estão em vigor, ou abriria ainda mais o apetite do capital internacional pelo mercado brasileiro, agravando a apreciação do real. Com a desvalorização, o controle seria ainda mais acentuado.
Mas o choque não é a única saída vista pelos participantes do encontro. Adversos à ideia de que o consenso provém do mercado, os adeptos da doutrina de
John Maynard Keynes só concordam que interferências como essa são ferramentas das quais os países que compõem a zona do euro não dispõem.
Para um dos convidados ao evento, o economista
Jan Kregel, da Estônia, a explicação é simples: trata-se de um projeto inteiramente neoliberal, praticamente blindado contra intervenções governamentais. O euro, reforça o professor da Universidade de Brasília
José Luís Oreiro, é um caso raro em que a unificação monetária precedeu a unificação política.
Para fazer uma desvalorização cambial, os países que enfrentam dificuldades para se enquadrar ao grupo teriam de deixar a união monetária. Segundo outro convidado do evento,
Malcom Sawyer, professor da Universidade de Leeds, na Inglaterra, essa saída seria tão traumática, devido à explosão da dívida pública e privada, que seria mais fácil que a Alemanha deixasse o euro para essas nações. Na opinião dele, a saída está na intensificação da união fiscal do bloco, não no seu desmembramento.
Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenador do encontro,
Fernando Ferrari Filho, a saída aponta para uma flexibilização das amarras fiscais e monetárias da zona do euro. Essa margem de manobra permitiria que países como a Espanha injetassem em suas economias o ânimo que as medidas contracíclicas adotadas até aqui não conseguiram dar.
"O único meio seguro de conter o déficit não é fazer contenção fiscal, é crescer", afirmou a professora da Universidade de Campinas
Maryse Farhi, que ressalta que essa lógica não vale só para a Europa e é muito atual para o Brasil. Para
Ferrari, é preciso que se abandone a ideia de austeridade fiscal e se busque a responsabilidade no investimento do setor público.
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Bresser Pereira recomenda "depreciação a frio" do câmbio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU